segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dublin e a Divina Comédia

Ainda bem me lembro de quando pensei pela primeira vez, ainda em Orlando, em seguir de lá para a Irlanda sem escalas. Lembro também do prazer discreto que repentina e absolutamente me embrulhou o estômago com medo contido. É que, eu sabia, aquele era um desejo antigo que poderia logo ali tomar forma de realidade. E, em um feliz pensado impulso - mas somente na proporção em que a lógica e a biologia nos permitem pensá-lo - decidi pela indecisão. Em poucas semanas, programei o modo de entrar naquele país, as coisas bárbaras que iria fazer no ano em que viveria lá, nas aventuras que teria. Mas esqueci de pensar em como viveria. O dia do adeus à segurança da Disney chegou. E voei dos Estados Unidos à Irlanda me pensando o garoto Jimmy, ainda que, àquela altura, eu jamais tenha ouvido sua história.
Dublin foi sedutora nos primeiros dias. Misteriosa, medieval, gótica. Aventureira. E, nas duas ou três semanas seguintes, foi sapato no pé. Corri para comer, corri para encontrar onde dormir, corri para encontrar o que beber, corri para não me perder... Corri. E me cansei.
E, sapatos no pé e idéias na cabeça, decidi pela partida. E foi no dia anterior ao dessa decisão que ouvi pela primeira vez a canção dos bufalos, que se segue no post anterior. Foi por uma cantora de ópera americana que, órfã, abandonou os Estados Unidos tão logo saiu do orfanato e, sem caminho de volta, tomou a partida por lar. Morou em Paris, em Londres e, naquele momento, cantava sua voz doce em um bar escuro para bêbados surdos em Dublin.

Malas nunca na vida desfeitas, parti para a descoberta desse outro que sempre tanto me fascinou. E cantei com músicos de rua, celebrei a vida com um grupo de terapeutas alternativos numa colina no meio do mar tocando violino, bebi até cair com alemães beberrões, comi crepes genuinamente franceses feitos por franceses, participei de um sarau numa taverna escondida, fui vendedor de porta em porta por um dia (de terno e gravata, por favor!!)... Até que parti. Leve. Para Londres.

2 comentários:

  1. Parabéns pela inicialtiva.

    É a sua cara.

    Gostaria de ver mais fotos com as histórias associada.

    Você é da área de humanas e certamente não terá dificuldades de mostrar o seu valor.

    Gostei da forma como colocou.

    Muito bom.

    Aguardo a próxima.

    ResponderExcluir
  2. Oi querido! Está realmente muito interessante a forma como vc abordou suas experiências... rs. Boa viagem! Bju

    ResponderExcluir